terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Resenha: Os Sete / Sétimo (André Vianco)

Percebi que vivo escrevendo sobre os livros do André Vianco aqui neste espaço, mas que nunca havia falado sobre os primeiríssimos sucessos do autor brasileiro! Hoje, estou me redimindo da culpa! 

Os Sete

Às vezes é bom comprar um livro pela capa...


Um dia entrei em uma livraria disposta a fazer alguma aquisição, mas sem nada em mente. Fiquei folheando vários e vários livros. Até que um sinistro olho vermelho me chamou atenção. Foi amor à primeira vista. Em segundos já estava no caixa pagando 'Os Sete'.

Viciada por histórias de vampiros, achei que a ideia de ter caninos agudos no Brasil era boa. Afinal, a terra tupiniquim também poderia abrigar esse adoráveis seres. E, desde o começo, senti que tinha um bom livro nas mãos. Não estava errada!

A história começa com jovens que nada tinham na cabeça, sem problemas a resolver. E de uma hora para outra Thiago, Eliana, César e Olavo se encontram com sete 'abacaxis' nas mãos. E como todos os bons heróis, não querem deixar que o mundo pereça com os ataques dos inescrupulosos vilões...

E falando em vilões, esta é a melhor parte do livro. Pois, os sete vampiros (no caso, só conhecemos seis) têm poderes sobrenaturais dados diretamente pelo diabo. E é aí que a trama começa ficar louca e deixar os leitores apreensivos e apaixonados pelos personagens. Seja pelo impetuoso Dom Guilherme, o Inverno, ou pelo doce Dom Miguel, o Gentil, que precisam ser escondidos, o que se torna bastante difícil quando um consegue modificar o tempo e o outro... bom, o que o outro faz é um excelente surpresa! 

Muito se fala sobre a forma como André Vianco escreveu esta obra. Porém apesar de não ser um primor de escrita, de deixar Saramago boquiaberto, acredito que não há comprometimento da história por esse ter sido o primeiro livro do autor. Há uma genuína inocência na forma de escrever, que acaba tornando-o ainda mais cativante. Pois, não há aqueles andrajos e macetes muito utilizados por figuras como Dan Brown e Paulo Coelho.

Muito recomendado, assim como suas continuações.


Sétimo

Continuação de uma obra prima do vampirismo


Se em 'Os Sete' os astros foram seis vampiros do Rio Douro, que apenas comentavam por alto o quanto terrível era o irmão de Dom Miguel, neste livro Sétimo ganha uma obra só para ele. Mesmo sendo o mais novo dos vampiros portugueses, o ex-pescador teve um mestre 'de primeira': o próprio demônio.

Com isso, Sétimo se torna o pior vampiro da face da terra, mas, assim como os outros, também se vê dentro da caixa de metal por mais de 500 anos. Quando ela é aberta, e acontece 'Os Sete', a primeira coisa que Dom Guilherme faz é escondê-lo, pois para os próprios vampiros ele é uma séria ameaça, já que foram eles os responsáveis pelo seu 'estágio' com o capeta.

Mas, Cezão, Tiago e Eliana descobrem o monstro (sim, monstro, pois em sua segunda forma ele se transforma numa espécie de dinossauro alado) e, mesmo sem querer, ressuscitam-no. A partir daí, Sétimo resolve voltar a comandar a terra e começa a reunir um exército para transformar o mundo em noite. No entanto, ele tem que enfrentar os próprios irmãos, que voltam no barco do Caronte em uma das melhores cenas que já li, e o grande caçador Tobias.

Um livro excelente, que veio a reafirmar o talento de André Vianco para o terror.

PS.: Ainda existe a continuação nos ótimos 'O turno da noite' volumes 1,2 e 3. Porém, ainda não resenhei-os e como foram lidos há muito tempo, posso fazer besteira. prometo que lerei-os novamente para escrever coerentemente para vocês!

Ficha técnica:

Livros: Os Sete / Sétimo
Autor: André Vianco
Editora: Novo Século
Ano: 2001 / 2002 
Páginas: 380 / 460
Nota/Cotação: 5 de 5

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Racionalidade

Quando sinto que preciso parar
Quando pressinto que devo deixar
Quando ouço o som do negar
Percebo o choro a chegar

Tento engolir o transtorno
Tento olhar ao entorno
Tento buscar um contorno
Tudo em vão, já sinto-me morno

Onde estará a razão?
Onde fugir da sofreguidão?
Onde acender a escuridão?

Se tiver uma resposta afinal,
Por favor, me dê um sinal
Quero deixar de ser tão pouco racional!



Érika dos Anjos 


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Da passagem do tempo

Percebo o mundo sumindo
Percebo os olhos fechando
Percebo o sonho ruindo
Percebo a noite chegando
 
Agradeço pelo dia vivido?
Ou choro pelo momento perdido?
Aconchego-me no plano partido?
Ou vivo um pranto incontido?

Passo a madrugada desnorteada
Amanheço com o coração em disparada
Sei que está quase na hora da chegada
Daquele instante que tenho que ser abnegada

Tento preparar-me a cada segundo
Mas quando chega a hora, afundo
 

Não quero mais navegar na sensação
De quem perdeu a pulsação
 

Então, passa mais um dia
E continuo a sentir um tanto de agonia



Érika dos Anjos


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Taxa

- Olá. Vim pagar minha taxa?
- Que taxa?
- Referente ao conteúdo de dados que uso na minha cabeça.
- A senhora tem algum número para que possamos calcular?
- Exatamente não, mas garanto que é um valor alto.
- Desculpe-me, senhora. Mas, precisamos de algum valor para fazer o cálculo. Deixe-me tentar ajuda-la? Qual foi a última vez que teve insônia?
- Ontem.
- E ficou perdida em pensamentos enquanto acordada?
- Sim, o tempo todo.
- Interessante. Esses pensamentos foram se modificando ao longo da noite?
- Sim, passaram diversos assuntos pela minha cabeça.
- Acho que vou somar mais alguns pontos... a senhora conseguiu dormir depois?
- Sim, sim. Consegui. Senão, nem estaria de pé.
- Melhor assim, não é? Subtraio um tanto... mas, continuando, quando a senhora acordou, os pensamentos continuaram rodando sua mente?
- O tempo todo. Por isso, estou aqui, acho que estou extrapolando meu limite de pensamentos.
- Ah, é justo! A senhora sabe como é, atualmente, após a chegada desta nova jurisdição: quanto mais se pensa, mais se paga...
- Sei sim. E como não quero ficar em falta...
- A senhora está certíssima. Daqui a pouco, iriam até sua casa para acabar com seus pensamentos.
- Deus, me livre, moço! Por isso, quero acertar logo todas as contas. Diga logo de quanto é minha taxa, por favor?
- Ainda estou calculando. A senhora conhece a burocracia deste momento. Nada pode ser em vão, é preciso solicitar ao computador seus antecedentes, seus pensamentos anteriores... e, pelo que estou vendo, a senhora sempre pensou muito, não?
- Sim, sim. Mas, ultimamente, tenho pensado ainda mais. A cada dia ganho mais motivos para pensar...
- Isso é complicado mesmo. Mas, já vou resolver!

Calcula. Calcula. Calcula. Calcula.

- Prontinho! Aqui está o boleto da sua taxa de pensamento.
- Mas o que é isso? Não dá para pagar isso tudo!
- A senhora conhece as regras. Ou paga, ou perderá a chance de pensar.
- Não há outra forma? Posso pagar de outro jeito? Com luta? Transmissão de conhecimento? Tentar mudar outros pensamentos?
- A senhora sabe. Há como pagar assim, mas é um caminho bem mais difícil e tortuoso. Muitos optam por pagar logo a taxa e se ver livre.
- Pois, saiba de uma coisa! Irei pagar sim, mas do meu jeito. Pagarei para ver. Pagarei pra explorar. Pagarei pra pensar. Pagarei pra amar. Pagarei pra me ver livre dessa taxa absurda e continuar com meus pensamentos.
- A senhora que sabe. Mas, entenda, podem haver retaliações...
- Sem problemas. Pode colocar no sistema que pagarei a taxa com mais luta ainda e com muito, muito mais amor. Todo o amor que há em mim.
- Ok. Próximo!


Érika dos Anjos


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Recônditos

Às vezes, aceitar sua parte no trato é o momento mais difícil

Podemos querer mais

Na verdade, quase sempre queremos mais

Mais do que é possível

Mais do que é ofertado

Mais do que o mundo está disposto a dar


 Ah, como seria fácil e tranquilo

Aceitar o que está proposto

Conseguir ver a beleza das cartas marcadas

Mas, infelizmente, não é possível


 Quando não é o corpo que pede,

É a alma que ordena

E ai de quem discordar

Sofre e fica estagnado

Com o mundo nas costas

Tal qual o castigo de Apollo


 Triste é quem acha que não há mais nada,

Que nada mais pode ser oferecido

Sempre há um recôndito da alma pronto para aparecer,

Ganhar força e alardear ao público

“Estou aqui e não posso retornar”



Érika dos Anjos





quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Resenha: Sementes no gelo (André Vianco)

A força macabra da mente é algo poderoso e, sem dúvida, André Vianco soube usar isso a seu favor neste que é seu livro mais assustador. Esqueça vampiros e lobisomens. Eles são sem graça perto de algo muito mais real: os espíritos. Principalmente, os espíritos atormentados do que seriam crianças, mas que foram abortadas e, assim, não puderam cumprir sua 'aventura', como denomina o autor.

Durante este livro, Vianco mostra sua faceta mais macabra e deixa os leitores com um belo frio na espinha, fazendo com que achemos que alguma coisa se mexeu embaixo da cama... no entanto, fora a parte sobrenatural da história, o autor também brinca de detetive e coloca no textos vários elementos policiais e criminais que enriquecem bastante a história.

Assim como os outros livros, out-séries de André Vianco (Senhor da Chuva, A Casa e Caminho do Poço de Lágrimas, além deste) Sementes no Gelo acaba por descortinar a hipótese de autor-de-um-tipo-de-livro-só. Merece ser lido e, quem sabe, temido.

"O homem estremeceu. Virou-se repentinamente, ainda deitado, deixando apenas os olhos espiarem o quarto pela fresta que arranjou no pesado cobertor. Aquele som. A bolinha de gude. Sim, era fantasmagórico. Era fantasmagórico porque não deveria existir brinquedo algum ali. Não deveria existir menino tagarela nenhum em seu quarto. Não tinha filho que pudesse chamá-lo de papai. Tinha agora, ali, diante de seus olhos amedrontados, uma espécie de espectro que andava, falava e saltitava amarelinha em seu quarto. Um fantasma que o chamava de papai".

Ficha técnica:


Livro: Sementes no gelo
Autor: André Vianco
Editora: Novo Século
Ano: 2002
Páginas: 174
Nota/Cotação: 4,5 de 5

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Resenha: HQs Vampiros do Rio Douro Volumes 1 e 2

Vampiros do Rio Douro Volume 1

Valeu pelo ineditismo


Quem já leu os épicos 'Os Sete' e 'Sétimo' tem a incrível curiosidade de conhecer a vida pré-caixa de prata dos vampiros. E André Vianco tentou resolver este 'problema' com esta primeira HQ sobre a história portuguesa. No entanto, o resultado não foi o esperado.

Com um texto confuso e, principalmente, desenhos amadores que tentavam ser, no máximo, pitorescos, a revista ficou com cara de 'boneca', ou seja, um croqui inicial que ainda precisava ser finalizado. É claro que um pouco da curiosidade inicial conseguiu ser saciado, mas os verdadeiros fãs ainda precisam de mais profundidade, algo mais esmiuçado para se sentirem completos com a genial história dos sete vampiros do Rio Douro.

Porém, para um país que não tem tanto desta cultura multimídia, a iniciativa valeu muito a pena!


Vampiros do Rio Douro Volume 2

Infelizmente, perdeu a mão


Esta segunda HQ dos vampiros do Rio Douro realmente deixou muito a desejar. Primeiro, porque os desenhos continuam ruins e com cara de croqui e, segundo, porque, infelizmente, o autor perdeu a mão com os textos. Os diálogos ficaram muito confusos e às vezes prolixos, mas sem explicar nada.

Além disso, visando uma terceira edição, várias pontas foram deixadas de lado. No entanto, devido ao alto custo de uma revista deste porte e da baixa venda (acredito eu) não foi para a frente e André Vianco resolveu voltar à carga em outros projetos, mais lucrativos e mais aceitos pelo público.





Ficha técnica:

Livro: Vampiros do Rio Douro Volume 1 e 2
Autor: André Vianco
Editora: Novo Século
Páginas: 63 / 72
Ano: 2007 / 2007
Nota/cotação: 2 de 5