quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Racionalidade

Quando sinto que preciso parar
Quando pressinto que devo deixar
Quando ouço o som do negar
Percebo o choro a chegar

Tento engolir o transtorno
Tento olhar ao entorno
Tento buscar um contorno
Tudo em vão, já sinto-me morno

Onde estará a razão?
Onde fugir da sofreguidão?
Onde acender a escuridão?

Se tiver uma resposta afinal,
Por favor, me dê um sinal
Quero deixar de ser tão pouco racional!



Érika dos Anjos 


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Da passagem do tempo

Percebo o mundo sumindo
Percebo os olhos fechando
Percebo o sonho ruindo
Percebo a noite chegando
 
Agradeço pelo dia vivido?
Ou choro pelo momento perdido?
Aconchego-me no plano partido?
Ou vivo um pranto incontido?

Passo a madrugada desnorteada
Amanheço com o coração em disparada
Sei que está quase na hora da chegada
Daquele instante que tenho que ser abnegada

Tento preparar-me a cada segundo
Mas quando chega a hora, afundo
 

Não quero mais navegar na sensação
De quem perdeu a pulsação
 

Então, passa mais um dia
E continuo a sentir um tanto de agonia



Érika dos Anjos


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Taxa

- Olá. Vim pagar minha taxa?
- Que taxa?
- Referente ao conteúdo de dados que uso na minha cabeça.
- A senhora tem algum número para que possamos calcular?
- Exatamente não, mas garanto que é um valor alto.
- Desculpe-me, senhora. Mas, precisamos de algum valor para fazer o cálculo. Deixe-me tentar ajuda-la? Qual foi a última vez que teve insônia?
- Ontem.
- E ficou perdida em pensamentos enquanto acordada?
- Sim, o tempo todo.
- Interessante. Esses pensamentos foram se modificando ao longo da noite?
- Sim, passaram diversos assuntos pela minha cabeça.
- Acho que vou somar mais alguns pontos... a senhora conseguiu dormir depois?
- Sim, sim. Consegui. Senão, nem estaria de pé.
- Melhor assim, não é? Subtraio um tanto... mas, continuando, quando a senhora acordou, os pensamentos continuaram rodando sua mente?
- O tempo todo. Por isso, estou aqui, acho que estou extrapolando meu limite de pensamentos.
- Ah, é justo! A senhora sabe como é, atualmente, após a chegada desta nova jurisdição: quanto mais se pensa, mais se paga...
- Sei sim. E como não quero ficar em falta...
- A senhora está certíssima. Daqui a pouco, iriam até sua casa para acabar com seus pensamentos.
- Deus, me livre, moço! Por isso, quero acertar logo todas as contas. Diga logo de quanto é minha taxa, por favor?
- Ainda estou calculando. A senhora conhece a burocracia deste momento. Nada pode ser em vão, é preciso solicitar ao computador seus antecedentes, seus pensamentos anteriores... e, pelo que estou vendo, a senhora sempre pensou muito, não?
- Sim, sim. Mas, ultimamente, tenho pensado ainda mais. A cada dia ganho mais motivos para pensar...
- Isso é complicado mesmo. Mas, já vou resolver!

Calcula. Calcula. Calcula. Calcula.

- Prontinho! Aqui está o boleto da sua taxa de pensamento.
- Mas o que é isso? Não dá para pagar isso tudo!
- A senhora conhece as regras. Ou paga, ou perderá a chance de pensar.
- Não há outra forma? Posso pagar de outro jeito? Com luta? Transmissão de conhecimento? Tentar mudar outros pensamentos?
- A senhora sabe. Há como pagar assim, mas é um caminho bem mais difícil e tortuoso. Muitos optam por pagar logo a taxa e se ver livre.
- Pois, saiba de uma coisa! Irei pagar sim, mas do meu jeito. Pagarei para ver. Pagarei pra explorar. Pagarei pra pensar. Pagarei pra amar. Pagarei pra me ver livre dessa taxa absurda e continuar com meus pensamentos.
- A senhora que sabe. Mas, entenda, podem haver retaliações...
- Sem problemas. Pode colocar no sistema que pagarei a taxa com mais luta ainda e com muito, muito mais amor. Todo o amor que há em mim.
- Ok. Próximo!


Érika dos Anjos


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Recônditos

Às vezes, aceitar sua parte no trato é o momento mais difícil

Podemos querer mais

Na verdade, quase sempre queremos mais

Mais do que é possível

Mais do que é ofertado

Mais do que o mundo está disposto a dar


 Ah, como seria fácil e tranquilo

Aceitar o que está proposto

Conseguir ver a beleza das cartas marcadas

Mas, infelizmente, não é possível


 Quando não é o corpo que pede,

É a alma que ordena

E ai de quem discordar

Sofre e fica estagnado

Com o mundo nas costas

Tal qual o castigo de Apollo


 Triste é quem acha que não há mais nada,

Que nada mais pode ser oferecido

Sempre há um recôndito da alma pronto para aparecer,

Ganhar força e alardear ao público

“Estou aqui e não posso retornar”



Érika dos Anjos





quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Resenha: Sementes no gelo (André Vianco)

A força macabra da mente é algo poderoso e, sem dúvida, André Vianco soube usar isso a seu favor neste que é seu livro mais assustador. Esqueça vampiros e lobisomens. Eles são sem graça perto de algo muito mais real: os espíritos. Principalmente, os espíritos atormentados do que seriam crianças, mas que foram abortadas e, assim, não puderam cumprir sua 'aventura', como denomina o autor.

Durante este livro, Vianco mostra sua faceta mais macabra e deixa os leitores com um belo frio na espinha, fazendo com que achemos que alguma coisa se mexeu embaixo da cama... no entanto, fora a parte sobrenatural da história, o autor também brinca de detetive e coloca no textos vários elementos policiais e criminais que enriquecem bastante a história.

Assim como os outros livros, out-séries de André Vianco (Senhor da Chuva, A Casa e Caminho do Poço de Lágrimas, além deste) Sementes no Gelo acaba por descortinar a hipótese de autor-de-um-tipo-de-livro-só. Merece ser lido e, quem sabe, temido.

"O homem estremeceu. Virou-se repentinamente, ainda deitado, deixando apenas os olhos espiarem o quarto pela fresta que arranjou no pesado cobertor. Aquele som. A bolinha de gude. Sim, era fantasmagórico. Era fantasmagórico porque não deveria existir brinquedo algum ali. Não deveria existir menino tagarela nenhum em seu quarto. Não tinha filho que pudesse chamá-lo de papai. Tinha agora, ali, diante de seus olhos amedrontados, uma espécie de espectro que andava, falava e saltitava amarelinha em seu quarto. Um fantasma que o chamava de papai".

Ficha técnica:


Livro: Sementes no gelo
Autor: André Vianco
Editora: Novo Século
Ano: 2002
Páginas: 174
Nota/Cotação: 4,5 de 5

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Resenha: HQs Vampiros do Rio Douro Volumes 1 e 2

Vampiros do Rio Douro Volume 1

Valeu pelo ineditismo


Quem já leu os épicos 'Os Sete' e 'Sétimo' tem a incrível curiosidade de conhecer a vida pré-caixa de prata dos vampiros. E André Vianco tentou resolver este 'problema' com esta primeira HQ sobre a história portuguesa. No entanto, o resultado não foi o esperado.

Com um texto confuso e, principalmente, desenhos amadores que tentavam ser, no máximo, pitorescos, a revista ficou com cara de 'boneca', ou seja, um croqui inicial que ainda precisava ser finalizado. É claro que um pouco da curiosidade inicial conseguiu ser saciado, mas os verdadeiros fãs ainda precisam de mais profundidade, algo mais esmiuçado para se sentirem completos com a genial história dos sete vampiros do Rio Douro.

Porém, para um país que não tem tanto desta cultura multimídia, a iniciativa valeu muito a pena!


Vampiros do Rio Douro Volume 2

Infelizmente, perdeu a mão


Esta segunda HQ dos vampiros do Rio Douro realmente deixou muito a desejar. Primeiro, porque os desenhos continuam ruins e com cara de croqui e, segundo, porque, infelizmente, o autor perdeu a mão com os textos. Os diálogos ficaram muito confusos e às vezes prolixos, mas sem explicar nada.

Além disso, visando uma terceira edição, várias pontas foram deixadas de lado. No entanto, devido ao alto custo de uma revista deste porte e da baixa venda (acredito eu) não foi para a frente e André Vianco resolveu voltar à carga em outros projetos, mais lucrativos e mais aceitos pelo público.





Ficha técnica:

Livro: Vampiros do Rio Douro Volume 1 e 2
Autor: André Vianco
Editora: Novo Século
Páginas: 63 / 72
Ano: 2007 / 2007
Nota/cotação: 2 de 5 

sábado, 8 de outubro de 2016

Resenha: O Senhor da Chuva (André Vianco)

Este é um daqueles livros de André Vianco em que ele se desvincula do tema central vampiros, apesar dos seres noturnos fazerem parte da história. Assim, 'O Senhor da Chuva' acaba se constituindo em uma prova de fogo para a criatividade do autor, que se sai muito bem, criando um mundo instigante e cheio de magia, além de confrontar o bem contra o mal de bastante criativa.

Neste livro, dois irmãos gêmeos acabam esbarrando em uma séria guerra entre anjos e demônios, após alguns dos mais importantes mensageiros de Deus desobedecerem as mais importante das leis que regem o cotidiano divino: Thal, ao ser perseguido, toma posse do corpo de um humano, desencadeando a Batalha Negra, onde os demônios poderiam fazer o que quisessem, pois os anjos, neste momento, estavam errados.
Nesta obra, o autor coloca em cena pela primeira vez alguns importantes personagens que aparecerão em outras séries, como Sofia e Dimitri, que terão papel vital em 'Sétimo', e Samuel e Gregório, que irão interferir diretamente em 'O Turno da Noite'.

'O Senhor da Chuva' é um excelente livro, mesmo que você não conheça os outros de André Vianco, mas, se vier a conhecer, irá achar ainda melhor esta inusitada guerra entre anjos e demônios.

PS.: Uma das coisas que mais gosto neste livro são as descrições dos anjos e suas batalhas. Cito aqui uma delas:
"A figura, lá no topo, não era um homem... era um guerreiro de luz, destinado a lutar pelos seres de alma pura. Empertigava-se com a presença do inimigo, das forças das trevas. Combatia demônios quando aquela espada voava para fora de sua bainha e cortava o ar, partindo feras malditas, salvando as almas ameaçadas. Pelos inimigos era temido. Dos exércitos da luz era um encorajador. O rosto reto e vincado, a pele cor de cobre, os olhos chamejantes e vivazes como os de uma águia lhe conferiam uma imponência impressionante. A criatura era o que os humanos chamam de anjo... um anjo da luz".

Ficha técnica:

Livro: O Senhor da Chuva
Autor: André Vianco
Editora: Novo Século
Ano: 2001
Páginas: 208
Nota/Cotação: 4 de 5 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Resenha: Memória de Minhas Putas Tristes (Gabriel García Márquez)

É difícil pensar em dizer algo menos que excelente para uma obra de Gabriel García Márquez. E 'Memória de minhas putas tristes' está a um passo de ser um livro ruim. Pois, é uma leitura de difícil entendimento, de uma amplitude sentimental que quase enlouquece. Tanto que, ao fechar o livro após a última página, foram horas pensando, pensando e tentando chegar a um pouco do que a genialidade de Gabo chegou.

Em um primeiro momento, pensamos naqueles velhos tarados que ficam na praça jogando dominó e quando uma mulher passa ficam babando e chamando de gostosa. Mas, depois, percebe-se a delicadeza de amar o que é belo e intocado em qualquer idade, em qualquer momento da vida, seja com 90 anos, seja com a ingenuidade dos 9.

A forma cru como Gabo cita algumas mulheres e algumas passagens da vida do velho jornalista é deliciosa de se ler. O homem tem o dom de conseguir demonstrar frieza e languidez sem cair no vulgar. Em certos momentos, teme-se ser ruim sentir uma ponta de orgulho ou até mesmo um apreço especial por aquele homem que era mais um grosso metido a machão na multidão.

Enfim, é um livro com a complexidade que se espera de Gabriel García Márquez e que retrata de onde vem esse eu que todos temos e, às vezes, queremos esquecer.

Ficha técnica:

Livro: Memória de minhas putas tristes
Autor: Gabriel García Márquez
Editora: Record
Ano: 2009
Páginas: 130
Nota/cotação: 3,5 de 5

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Resenha: Orgulho e Preconceito (Jane Austen)

Acredito que todas as pessoas que gostam de um bom romance devem, obrigatoriamente, ler e amar este livro. Pois, Jane Austen consegue concatenar em suas páginas o que há de melhor neste tipo de literatura até hoje. Mesmo esta obra prima tendo sido escrita no século 18.

A reviravolta do amor de Elizabeth e Mr. Darcy é digna de um gênio. Além disso, todas as subtramas são perfeitamente estruturadas, explicadas e definidas, não deixando nenhuma apara a ser feita no texto.

É um dos melhores exemplos de que a literatura não tem tempo nem direção. O que conta é a apenas a qualidade do seu autor. E Jane Austen merece o título de Rainha do Romance após estas maravilhosas páginas.

'Orgulho e preconceito' narra a história de Lizzie Bennet, uma moça completamente fora dos padrões da época, mas que que ao casar pode ser a solução financeira para a família, que, além dela, precisa casar e dar o dote para outras quatro irmãs. Inicialmente, o casamento deveria acontecer com o insípido Mr. Bingley, porém, como não poderia deixar de ser, ele é o completo oposto do que quer Lizzie. E até mesmo Mr. Darcy, só demonstra seus sentimentos, ardentemente, lááááá no finalzinho da trama. Até então, devemos nos deliciar com os desencontros e discussões dos personagens que nos encantam com suas línguas ferinas!

Orgulho e Preconceito é nossa Rainha dos Romances Jane Austen em sua melhor forma!

Ficha técnica:


Livro: Orgulho e Preconceito
Autor: Jane Austen
Editora: Civilização Brasileira
Ano: 2006
Páginas: 427
Nota/Cotação: 5 de 5

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Resenha: O caminho do poço das lágrimas (André Vianco)

Não sei se estava muito sensível na época em que li este livro... mas, o que tenho certeza é de que chorei muito com o final, pois esta obra é daquelas em que você vai sendo cativado momento a momento pelos personagens, que em determinado momento já sabe o que Jonas, Ingrid ou Bosco decidirão fazer exatamente pelo sentimento de conhecê-los. Com este relato, André Vianco mostra seu lado mais sensitivo e místico, com grandes doses de emoção.

Jonas, um homem muito trabalhador e com pouco tempo para a família, resolve levar os filhos para passear, a fim de recuperar um pouco do tempo perdido com eles. No entanto, em determinado momento da viagem, eles acordam em um campo verde, sem o carro, e com uma estrada de tijolos delineada à frente. A dúvida é: precisamos mesmo segui-lo? No caminho, muitos acontecimentos misteriosos e fabulosos parecem não querer deixar que eles cheguem ao seu destino.

Um verdadeiro conto de fadas do século XXI, que te faz pensar muito, eu disse muito mesmo, após o seu término. Pois, afinal, o que estamos fazendo da nossa vida? Para onde estamos levando-a? Qual a nossa estrada de tijolos?

PS.: Apesar de ser um dos chamarizes do livro, não gostei dos desenhos. Não acrescentaram nadica à história.

Ficha técnica:


Livro: O caminho do poco das lágrimas
Autor: André Vianco
Editora: Novo Século:
Ano: 2008
Páginas: 200
Nota/Cotação: 4 de 5

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Resenha: O diário de Anne Frank (Anne Frank)

Há pouquíssimas pessoas que ainda não conhecem a história de 'O diário de Anne Frank', pois, além da escrita, vários filmes e documentários já foram feitos sobre o assunto. Porém, quando se está com o livro em mãos, a história parece que toma vida e você se apega de uma forma inebriante à autora e ao seu fatídico destino. Quando li o livro, obviamente já sabia o que aconteceria com a pobre menina judia, que passou anos escondida em um sótão em Amsterdã, mas garanto que não estava preparada para tamanho desconforto ou tamanha tristeza que me invadiu no fim da leitura.

No início do diário, Anne conta sobre sua vida pré-guerra, seus problemas na escola (o que hoje chamariam de Bullying) e o dia a dia com sua família. Só que aos poucos as batalhas se aproximam, os nazistas passam a se infiltrar em todos os locais e a caçada aos judeus se torna ferrenha e acaba com os alicerces da família Frank, que precisa fugir e ser escondida em um sótão com várias outras pessoas que também precisavam não serem descobertas pelos soldados, a fim de que não fossem mortas sumariamente ou enviadas para os temidos campos de concentração.

Aos poucos, o leitor se encanta com a ingenuidade e o sofrimento daquela criança que escreve noite após noite em seu diário e consegue mostrar toda a confusão de seus sentimentos e a falta de entendimento sobre o motivo de estarem passando por aquele inferno. Para tentar fugir do seu triste cotidiano, Anne ainda cria uma amiga imaginária chamada Kitty, que acaba sendo um alterego de cada um de nós, leitores. Ela passa por todos os problemas inerentes à infância e ao início da juventude, como uma paixão por Peter, um dos moradores do anexo, e a necessidade de continuar os estudos, mesmo estando em tão precária situação, ordens expressas de seu pai Otto Frank, no fim, o único sobrevivente e que ficou responsável por transformar o diário da filha em livro após sua morte por tifo, no campo de Bergen-Belsen.

Pessoalmente, algo que me marcou muito nesse livro foi a forma como termina, pois o diário é, literalmente, interrompido do nada quando chega a polícia de segurança para levá-los após descobrirem o esconderijo. É como se estivéssemos ali ao lado de Anne, já que não há respostas para suas perguntas, não há fim para suas dúvidas, não há fim, tudo é interrompido. Inclusive, a vida daquela que nos afeiçoamos em todas as outras páginas.

Ficha técnica:

Livro: O diário de Anne Frank 
Autor: Anne Frank
Editora: Record
Ano: 2008 (original de 1947)
Páginas: 350
Nota/Cotação: 4 de 5

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Resenha: A bolsa amarela (Lygia Bojunga)

Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que este livro mudou minha vida aos 11 anos de idade. Foi a partir desta leitura que decidi me tornar jornalista e, mais tarde, escritora. E grande parte desta realização devo à forma magnânima com que Lygia Bojunga trata a delicada trajetória da Bolsa Amarela.

A história de Lorelai é singela e forte, pois trata-se de uma menina que tem grande desejos, que como toda criança, são vitais para sua sobrevivência. E, vendo que os pais e amigos não lhe dão bola, ela se envolve em um mundo só seu, com seus pertences, seu galo Afonso, seu amigo imaginário e sua bolsa amarela, sobrada da herança de uma tia falecida.

Lygia Bojunga mostra que Lorelai apesar de pequena tem uma criatividade de gente grande, que encanta e nos faz pensar que os sonhos são para serem seguidos. Pois, às vezes, como no meu caso, acaba dando certo.

"- É o seguinte: eu resolvi que vou ser escritora, sabe? E escritora tem que viver inventando gente, endereço, telefone, casa, rua, um mundo de coisas. Então eu inventei o André. Pra já ir treinando. Só isso.
Aí meu irmão fechou a cara e disse que não adiantava conversar comigo porque eu nunca dizia a verdade. Fiquei pra morrer:
- Puxa vida, quando é que vocês vão acreditar em mim, hem? Se eu tô dizendo que eu quero ser escritora é porque eu quero mesmo".

Ficha técnica:

Livro: A Bolsa Amarela
Autor: Lygia Bojunga
Editora: Casa Lygia Bojunga
Ano: 2013 (original de 1976)
Páginas: 135
Nota/Cotação: 5 de 5 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Resenha: Vale Tudo (Nelson Motta)

A figura de Tim Maia sempre foi mítica e ficcional. Tenho certeza de que eu não sou a única que tentou ir a um show do mestre do soul brasileiro e não conseguiu. Mas, a raiva passou rápido, quando do DJ começou a tocar os grande sucessos do 'preto, gordo, pobre e cafajeste', como ele mesmo se intitulava.

E Nelson Motta, ou nelsomotta, como diria Tim, consegue fazer um viagem inesquecível pelas cenas da vida desse filho pródigo da música. Há passagens hilariantes e outras tristes de preconceito e dureza na vida de Tim, mas que o autor consegue transformar em uma escrita leve, onde fica marcada a genialidade incompreendida do 'gordinho da Tijuca'.
Momentos como a criação do hit Azul da Cor do Mar, a paixão pela menina paraplégica, o encontro com Jorge Ben Jor e várias passagens com Rita Lee - destaque para quando eles quebram o escritório do presidente da gravadora e quando ela conta que brigou com Roberto de Carvalho - valem cada instante de leitura desta obra prima brasileira.

Realmente, a vida e obra de Tim Maia valem tudo e mais um pouco!

"Ao saber que Carlos Imperial emagrecera 30 quilos com um tratamento revolucionário em uma clínica em Bonsucesso, pediu o endereço ao ex-gordo e se internou. Quando lhe deram o primeiro caldinho, se assustou: "Êpa! Que negócio é esse?”
Depois de uma semana entre sucos, folhas, papas e caldos, fugiu com a roupa do corpo em um caminhão de entrega de leite. E mandou que seu secretário Celinho Matos fosse imediatamente para a Churrascaria Carreta, em Ipanema, com o talão de cheques. Encontrou Tim cercado de pratos de arroz, feijão e batatas fritas, atracado com dois espetos mistos de carne, frango e porco e bebendo uma Coca- Cola litro. Tinha chegado ao meio-dia e só saiu às oito da noite.
Na primeira entrevista que deu depois do tratamento, cunhou um de seus aforismos imortais:
"Fiz uma dieta rigorosa, cortei álcool, gorduras e açúcar. Em duas semanas perdi 14 dias”.


Ficha técnica:


Livro: Vale Tudo
Autor: Tim Maia
Editora: Objetiva
Ano: 2007
Páginas: 392
Nota/Cotação: 5 de 5 

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Resenha: A passagem de Morgan (Anne Tyler)

CONTÉM SPOILER!!!!! 
Leia por sua conta e risco!

Tinha este livro na estante, mas sempre fiquei meio receosa de começá-lo. E,ao terminar tive certeza de que preciso confiar mais no meu sexto sentido. Não é que seja ruim. Porém, essas 303 páginas ficariam geniais em 120.

Explico.

Morgan é um cara de cerca de 40 anos e, no mínimo, excêntrico. Casou com uma mulher porque não tinha mais o que fazer, teve muitas filhas e, em certo ponto da vida, resolveu se passar por várias pessoas diferentes em várias situações.
Em um desses arroubos de esquisitice, Morgan conhece Emily, uma artista mambembe prestes a dar à luz. Fingindo-se de médico, ele faz o parto e fica obcecado por aquela família. Então começa a persegui-los e a fazer todo o tipo de coisa pensando unicamente neles. Até que consegue se infiltrar na casa dos artistas e tudo passa a mudar. Morgan quase mora lá, destrata a família em casa, perde o emprego e passa a viver "ajudando" os três.

Como já era de se esperar, ele se apaixona pela jovem Emily, eles têm um caso e fogem juntos. Até ela não aguentá-lo mais. Fim da história. Só que a autora, para descrever isso utiliza muitos artifícios que ficam perdidos e, apesar da boa história e da interessante louca de Morgan, a leitura se torna maçante.

Enfim, Morgan poderia ter passado mais rápido!


Ficha técnica:

Livro: A passagem de Morgan 
Autor: Anne Tyler
Editora: Mandarim
Páginas: 303
Ano: 1997
Nota/Cotação: 2 de 5

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Resenha: Mr. Playboy (Candy Halliday)

Esse é um daqueles romances que você não dá nada no início, mas que, no fim já está apaixonado pela leitura. A história é super envolvente, contando sobre um pai que tenta reconquistar o amor da filha depois de 13 anos. Porém, não é um pai qualquer. É o famoso Jack, o Lobo, Sims, um dos maiores jogadores de beisebol (ou seria futebol americano?) da história e conhecido como um devorador de mulheres, que estava a cada dia com uma modelo diferente.
A menina morava com a sogra dele, que o impedia de criá-la e que o culpava pelo destempero moral da filha e, posteriormente, pelo seu suicídio.
Após a morte da ex-esposa, Jack se muda para um novo condomínio onde o pessoal é super família e logo ele descobre que será o lugar certo para criar a rebelde Danielle. Só que ele descobre que em Woodberry Park também mora Alicia Greene, uma mulher linda, loira, rica e que fica encantada com a beleza máscula do ex-jogador. Mas, para desespero de Alicia e do próprio Jack, as meninas do Clube das Fantasias das Donas de Casa também resolvem dar um 'jeitinho' para que eles fiquem juntos, só que o tiro pode sair pela culatra.

PS.1: A forma como Alicia ajuda Danielle a se enturmar e a história da 'princesa na banheira' são ótimasssssss!!!

PS.2: O livro faz parte da série Clube das Fantasias das Donas de Casa, que seriam quatro no total. Mas, só foram publicados no Brasil dois por enquanto: este e Como salvar um casamento.

Ficha técnica: 

Livro: Mr. Playboy
Autor: Candy Halliday
Editora: Nova Cultural
Ano: 2007
Páginas: 160
Nota/Cotação: 4 de 5

Não querendo sair por nada!


sábado, 13 de agosto de 2016

Resenha: A vida exagerada de Martin Romaña (Alfredo Bryce Echenique)

No meu afã literário, entrei nas Lojas Americanas e me deparei com um calhamaço de quase 600 páginas por apenas R$ 9,90. Dei uma lida rápida na sinopse, vi que era de um escritor peruano e, como pretendia me aprofundar na literatura sul-americana, resolvi comprar. Toda contente, deixei-o na estante e algum tempo depois, me preparei psicologicamente para acompanhar a vida exagerada de Martin Romaña. Ó Céus!

O autor nos apresenta um personagem problemático e intenso, que faz tudo o que quer, quando quer. Filho de uma família abastada do Peru, resolve 'fazer a vida' em Paris da década de 60. Deixa uma namorada, Inês, e parte para o Velho Mundo. Lá, não consegue crescer na profissão que escolhera, 'apenas' ser escritor. Nesse meio tempo, passa por situações bizarras demais, onde tudo parece conspirar contra a estabilidade mental de Martin, que o autor deixa crer, desde o começo do livro, não é das maiores.

Inês resolve se encontrar com o amado na França e juntos decidem se envolver com um grupo revolucionário peruano que lá estava. Martin não se adapta tão bem ao grupo quanto Inês, por perguntar demais e não crer tanto em Karl Marx, e começa a ser deixado de lado e ser execrado pelos demais. Até que o amor dele e de Inês se evapora e ele passa a enlouquecer conscientemente.

No entanto, para que essas coisas aconteçam muitas outras situações bizarras tem vez, como o problema intestinal de Martin, que por causa de hemorroidas fica sem defecar durante dois meses criando um fecaloma. É bem nojenta a descrição da doença, do tratamento e da cirurgia. E nisso muitas e muitas páginas são gastas. Além disso, para pontuar o enlouquecimento do personagem, o autor utiliza a repetição de frases inteirassssssssss, deixando o leitor cada vez mais sonolento, cada vez mais estático, até que zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...

Ficha técnica:


Livro: A vida exagerada de Martin Romaña
Autor: Alfredo Bryce Echenique
Editora: Rocco
Páginas: 583
Ano: 1988
Nota/Cotação: 1 de 5